700 vlogs! Eu ainda não consegui acreditar que cheguei até aqui. Quando falei para a câmera pela primeira vez não podia acreditar que um dia chegaria a 700. Eu estava tão insegura pensando “quem vai querer ver isso?” ou “o que vão pensar de mim?”.
O mosquitinho do vlogs tinha me picado uns dias antes quando conheci o canal do Casey Neistat, um cara que morava em Nova York e, naquela época, documentava todos os dias da vida em vídeo. Ele foi responsável por trazer vários elementos de cinema para vlogs pessoais, um gênero que até então se limitava a pessoas falando para a câmera e mostrando algo aqui e ali.
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Todos os dias ele postava um vídeo entre 5 e 10 minutos em que documentava o o seu dia, mas que ia mais além. Os vídeos do Casey tinham início, meio e fim. Tinham música, tinham ritmo… eram engajadores. O Casey me mostrou que podemos expressar nossa criatividade, contar histórias e nos conectar com pessoas através de vlogs.
Eu sempre gostei de documentar a vida e o fazia com fotografia, scrapbooking, diário… registrar meu dia a dia era algo que eu já tinha em mim há muito tempo. Mas quando vi o Casey eu me dei conta de que vídeo seria uma forma divertida de fazê-lo e me daria espaço para exercitar ainda mais minha criatividade.
Então comecei. Mas não comecei fazendo nada mirabolante, na verdade, eu nem sabia muito bem como fazer, hehe. Mas comecei. E foi assim que saiu meu primeiro vlog:
Meu primeiro vlog é horrível, mas tenho muito orgulho dele. Se eu não o tivesse feito, não estaria agora escrevendo sobre meu vlog número 700. Muito menos sobre as lições que aprendi com esses 700 vlogs.
Sim, aprendi muita coisa, não apenas técnica (como filmar, editar, etc.), nem apenas ligadas a fazer vlog, mas aprendi conceitos que se, amanhã decido não fazer mais nenhum vlog, ainda permanecerão comigo e acabaram sendo responsáveis por ser quem sou hoje.
Não é o fato, mas a história que conta em vlogs
A principal habilidade que aprendi com o tempo foi a de enxergar histórias em fatos ordinários. Por um ano e meio fiz vlogs todos os dias, então eu tinha que encontrar algo interessante TODOS os dias para contar. E acabei percebendo que não é preciso fazer nada muito especial para encontrar valor no deu dia a dia. Precisamos apenas olhar com mais curiosidade para nossas vidas.
Hoje, Cris e eu podemos dizer que nossa vida aqui no Canadá está nos trilhos. Mas não era bem assim quando comecei a fazer os vlogs. O dinheiro era curto, não tínhamos nossa residência permanente e eu precisava ocupar horas do meu dia em um College para manter nosso visto. Eu não podia simplesmente acordar e ir para um café diferente ou a um bairro diferente só para poder contar algo diferente. Restaurantes então… eram ainda inalcançáveis para a gente.
E eu poderia ter pensado “ok, começo os vlogs quando minha vida for interessante, ou quando eu achar que a minha vida é interessante”. Sabe o que teria acontecido? Eu nunca teria começado.
Ter que espremer algo interessante de uma ida ao College, de um café em casa ou de qualquer atividade gratuita que eu encontrasse na minha frente me ajudou não só a melhorar minha habilidade como contadora de histórias, como a ser feliz com o que eu tinha.
O caminho é mais importante que o destino
Outra coisa que fazer vlogs me ensinou é que a vida não começa quando a gente alcança um objetivo. A vida está acontecendo agora e precisamos aproveitar o caminho tanto quanto o destino.
Eu sempre fui muito orientada por resultado. Sempre comecei tudo pensando em como seria o final, o que eu conseguiria depois de tudo feito. E os vlogs me fizeram aproveitar o processo.
Com o tempo percebi que quanto mais presente eu estivesse no momento, melhor os vlogs ficavam. No início eu ficava muito preocupada em como o vídeo iria ficar e acabava passando o dia estressada e preocupada com o resultado, não em viver o momento e registrá-lo.
E aí vi que eu tinha esse comportamento em tudo na minha vida. Ficava mais preocupada com o futuro que com o presente. É como se eu dissesse a mim mesma “quando eu tiver isso, vou ficar contente” ou “quando eu chegar a tal lugar, minha vida será perfeita”. Era como adiar a felicidade para o futuro ou fazê-la dependente de fatos que ainda estavam por acontecer (se é que aconteceriam).
Quando comecei a relaxar e aproveitar o processo, percebi uma mudança no meu humor. Antes eu ficava preocupada demais e acabava tendo uma certa aversão a gravar vlogs. Era tipo “vamos gravar isso logo para me livrar e depois eu vivo”. Comecei até a questionar se eu gostava mesmo de fazer vlogs.
Hoje eu adoro gravar. Chego a um lugar e já começo a analisar quais ângulos são melhores, quais detalhes posso mostrar no vídeo e, em vez de ir com um roteiro na cabeço, eu simplesmente vivo e deixo as coisas acontecerem.
Eu não sou responsável pela opinião dos outros
Outra coisa libertadora que aprendi é a entender que a percepção que as pessoas têm de mim é de responsabilidade delas, não minha.
Quando gravo, eu presto muito atenção nas minhas palavras. Na edição estou sempre atenta se há algo que pode gerar uma reação negativa e, principalmente, a premissa de todos os meus vlogs é: eu sempre tento passar uma mensagem positiva. E isso é tudo o que eu posso fazer.
Muitas pessoas vão adorar o que faço, algumas outras não vão gostar por vários motivos: porque não é o que elas procuram no YouTube, elas têm um estilo de vida muito diferente, etc.; e algumas poucas pessoas vão ter uma interpretação negativa da minha pessoa. E está tudo bem.
Eu não posso me convencer de que sou a melhor pessoa do mundo só porque alguém acha isso, assim como também não posso me convencer de que sou a pior. Eu sou eu, só eu sei quem eu sou e apenas faço minha parte para criar um impacto positivo no mundo. Todo o resto é além do meu controle e, portanto, é perda de tempo me preocupar com isso.