Nosso relacionamento com o açúcar mudou, veja por que isso é perigoso

Podemos dizer que o açúcar é um velho conhecido da Humanidade, mas o nosso relacionamento com ele foi mudando com o tempo.

Por volta de 8 mil anos AC, habitantes da Nova Guiné encontram o que seria um mato alto que, quando espremido originava um líquido doce. Sim, o que eles tinham descoberto era a cana de açúcar.

No século IV AC, a Índia começou a processar a cana e conseguia extrair um açúcar quase sólido. Nessa época, a produção tinha uso medicinal.

Mas foi em 510 AC que tudo mudou.

O imperador Dario da Persia invadiu a Indía e descobriu as semi-pedrinhas doces e, obviamente, ficou encantado com aquilo.

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Foi assim que os árabes começaram a não só explorar o comércio de açúcar como também aperfeiçoa-lo, chegando a um produto muito mais refinado, bem parecido ao açúcar que consumimos hoje.

Os Europeus então descobriram o gostinho doce durante as cruzadas e, adivinha: também ficaram fascinados. Não demorou para o açúcar chegar até os mercadores de Veneza, de onde era distribuído para as cortes européias.

Sim, cortes, somente cortes porque era um produto escasso e, por isso, extremamente caro. Esquece fazer o que podemos fazer hoje de ir no mercadinho da esquina e comprar um sacão de açúcar por alguns reais.

Estamos falando de algumas gramas custarem uma fortuna.

E já sabemos o que os mais ricos fazem quando têm acesso a um produto de luxo, certo? Começaram a ostentar!

A ostentação era tanta que a realeza gostava de exibir sua posse de açúcar em esculturas. Sim, eram comuns esculturas feitas de puro açúcar serem exibidas em festas nas cortes.

Mas quando um grupo da sociedade descobre algo novo e excitante, não demora muito para o resto querer consumi-lo também e para resolver o problema da escassez e, claro, lucrar muito também, países da Europa começaram a produzir cana de açúcar em colônias.

Foi assim que o Brasil se tornou um dos maiores produtores de açúcar do mundo, a um custo alto é claro, já que a produção era sustentada pelo sistema de escravidão.

Milhões de negros foram forçados a migrarem da África para as Américas, em parte, para trabalharem na produção do açúcar. Aliás, nem preciso dizer que em condições desumanas…

Nas foi assim que o açúcar se popularizou e chegou às casas mas populares da Europa e do mundo.

E foi então nas primeiras décadas do século XX que vemos a segunda grande transformação do nosso relacionamento com o açúcar.

Além de ser o período em que as balas começam a ganhar popularidade, é também quando a indústria alimentícia passa a incorporar o açúcar em seus produtos e caminhamos para o auge do consumo dos produtos processados em que vivemos hoje.

E por que você acha que começaram a incorporar o açúcar nos alimentos? Por que adicionava algum nutriente? Por que ajudava na conservação? Não, o motivo era muito mais simples: o açúcar simplesmente deixa os alimentos mais gostosos. 

Para mim, um exemplo clássico é o ketchup. Amasse tomate e tente vender. Agora adicione bastante açúcar e tente vender de novo. Muito mais fácil, né?

Quando descobriram que açúcar vende, foi uma festa. E agora nossa sociedade parece viver a ressaca dessa festa.

E para entender melhor isso, precisamos entender o que é o açúcar.

Vamos falar de carboidratos.

O carboidrato é um dos três macronutrientes dos quais nossos alimentos são compostos. São chamados de macros porque 1) é a divisão mais superficial dos nutrientes e 2) porque são os que precisamos em maior quantidade.

Eu expliquei tudinho sobre eles em um vídeo no canal. Aliás, recomendo muito que você assista porque não só explica o que eles são como lhe ajuda a se relacionar melhor com eles e saber escolher os melhores alimentos para você, em vez de ficar seguindo dietas malucas.

Conhecer os macronutirentes pode mudar o seu relacionamento com a comida e, definitivamente, a sua vida. Vai lá ver.

Mas então, voltando ao carboidrato… ele é a fonte primário de energia do nosso organismo. Ou seja, ele será usado pelo nosso corpo antes de qualquer outro, então, já dá para entender a importância dele, certo?

Pois bem, mas indo um pouco além, podemos dividir os carboidratos em simples e complexos, dependendo da quantidade de moléculas que eles possuem (tá tudo explicadinho lá no vídeo que eu falei).

Os carboidratos simples são… os açúcares. Que vão além do pozinho branco que a gente pensa quando pensa em açúcar.

Então, mesmo antes do refino da cana de açúcar, os seres humanos já consumiam açúcar só que em formas naturais, vindas de alimentos como frutas – obviamente -, legumes e grãos.

Podemos dizer que esse relacionamento era, em geral, saudável porque as pessoas simplesmente consumiam o açúcar de uma forma equilibrada.

O problema surgiu quando o açúcar se popularizou demais, ao ponto de ser consumido não só em mais alimentos, mas em maior quantidade também.

Porque vale lembrar: a partir do momento em que uma comida fica mais saborosa e acessível, a gente tende a consumi-la mais. E a coisa fugiu do controle.

Para a gente ter uma ideia melhor do tamanho do problema, vamos analisar os números.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que um adulto saudável consuma os macronutrientes em uma razão de 20% a 35% de gordura, 10% a 35% de proteínas e entre 45% e 65% açúcar.

Em 2015, a OMS também divulgou uma recomendação para que o consumo de açúcar adicionado fosse abaixo de 10% por dia, sendo que reduzir esse consumo para menos de 5% traria ainda mais benefícios. Por açúcar adicionado neste caso, entendem-se a açúcar de mesa, mel, sucos de frutas e açúcares adicionados por fabricantes em alimentos processados.

Estamos falando então de um limite de 25g – ou 6 colheres de chá – por dia. E novamente, açúcar adicionado não conta apenas o que nós adicionamos quando preparamos algo, tem que contar o que os fabricantes adicionam aos alimentos processados.

Você consome açúcar no seu iogurte da manhã. Ai meu Deus, nem vamos falar dos cereais… no pão, no leite, na batata, no arroz, no biscoito, na batatinha chips (sim, na batatinha chips!)… em tanta coisa.

Vamos falar em números?

Uma colher de sopa de ketchup tem por volta de 4g, ou seja 1 colher de chá, de açúcar adicionado.

Uma lata de refrigerante tem até 40g, o equivalente a 10 colheres de chá. Ou seja, só a latinha de refrigerante já faz você passar do limite diário recomendado.

Então, precisamos falar sobre o elefante na sala: os sucos de fruta. Eles são saudáveis? Sim e não.

A frase correta aqui é: comer a fruta em seu estado natural sempre será melhor que consumir um suco feito dela, mesmo que você não adicione nada a esse suco.

Primeiro porque em geral, o suco concentra mais o açúcar da fruta. Ou seja, se você comer uma maçã, irá consumir 10 gramas de açúcar. Só que para fazer 250ml de suco você vai precisar de umas três maçãs.

O segundo motivo de por quê é melhor comer a fruta é que muitas das vezes descartamos partes que são nutritivas, como casca e poupa, que ajudam a equilibrar o ganho nutricional.

Então, obviamente, sucos não são a pior coisa do mundo, mas temos que saber que sim são ricos em açúcar e é sempre bom procurar o equilíbrio no que consumimos no dia a dia.

E eu não quero lhe assustar, mas a verdade é que você provavelmente consome muito mais açúcar do que imagina.

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