No século XVIII Thomas Jefferson disse que o café era a bebida preferida do mundo civilizado. Obviamente essa frase contém algum preconceito e certo estereotipo, mas é inegável que o café teve uma função ainda maior que a de apenas ser uma bebida.
Esse líquido negro, tão comum no nosso dia a dia, teve seu papel fundamental na História da Humanidade ao ponto de podermos dizer que não chegaríamos onde chegamos sem ele.
Por isso, neste podcast vamos explorar a história do café, seu impacto na nossa sociedade e na nossa saúde também.
Um spoiler aqui: ao contrário do que muitos pensam, a cafeína não nos dá energia. Quer saber mais sobre isso? Este podcast é para você!
Vem comigo nessa viagem interessantíssima, cheia de fatos curiosos e perfeita para ser apreciada com – lógico – um bom café.
Ritual matinal que compartilhamos
Podcasts ainda não transmitem cheiro, mas posso apostar que você chegou a sentir aquele aroma gostoso de café nessa introdução.
Café – mais que uma bebida – é um ritual tão enraizado na nossa rotina (ou pelo menos na da maioria) que um simples som é capaz de acionar nossa memória afetiva e nos fazer sentir aquele cheirinho que nos lembra a um momento de prazer.
É interessante pensar que a maioria de nós não gosta de café na primeira vez que prova. Eu mesma sou um exemplo disso. Mas há algo nessa bebida amarga que consegue não só nos conquistar como participar diariamente das nossas vidas.
Então não é de se espantar a minha curiosidade de saber por que isso acontece: substâncias químicas que viciam ou influência social no nosso comportamento? Há muito a ser descoberto hoje!
A bebida mais consumida do mundo é a água. Óbvio. Mas sabe qual é a segunda? Sim, o café!
Estima-se que 400 bilhões de xícaras de café são consumidas por ano.
Os países escandinavos são os que mais consomem: Na Finlândia – líder do ranking – cada pessoa consome cerca de 12 Kg de café por ano. A bebida é um excelente aliado para lidar com longos invernos e baixas temperaturas.
Talvez para sua surpresa, nós brasileiros não ranqueamos alto em consumo de café. Ocupamos a 15ª posição entre os países que mais consomem.
Mas somos os maiores produtores da bebida. 1/3 de todo o café consumido no mundo vem das nossas terras, apesar de o título de melhor café do mundo pertencer à Colômbia. Vamos também falar sobre isso mais adiante neste podcast.
Já deu para perceber a importância que o café tem no mundo, né? Aliás, é impossível falar de café sem falar em uma das suas substâncias mais importantes: a cafeína.
A cafeína é o estimulante mais consumido no mundo. Cerca de 90% da população mundial a consome todos os dias, mesmo que não através de café, já que ela também está presente em outras bebidas e alimentos, como alguns tipos de chá, por exemplo.
E se você é curioso como eu, adora ficar se perguntando quando foi a primeira vez de algo ou como alguém teve a ideia que originou algo tão comum nos nossos dias.
Então posso apostar que você também já se fez esta pergunta: “quem um dia teve a ideia de moer o grão de café, regar com água quente e filtrá-lo?”
História do Café
A história do café é bem mais nova se comparada a do chá. Há registros de infusões de ervas para beber em 2 mil anos antes de Cristo. Mas o café mesmo como conhecemos só apareceu séculos depois.
Não existe uma história oficial ou comprovada, mas existe uma – digamos – lenda muito difundida que explicaria como o ser humano descobriu o café.
Diz essa lenda que em 650 AC, na Etiópia, um pastor percebeu que suas cabras ficavam bastante agitadas depois de comer uma frutinha vermelha. Ele teve a ideia de comer para ver se também ganharia energia, mas descobriu que a tal frutinha tinha um sabor tão amargo que a fazia impossível de ser comida.
Ele então as levou a um mosteiro, onde à princípio também não fizeram muito sucesso. Até que um dos monges decidiu jogar as frutinhas fora lançando numa fogueira.
E assim que os grãos começaram a torrar… bom, não preciso nem tentar descrever a você… você sabe perfeitamente o aroma que inundou o mosteiro. Foi o suficiente para convencê-los que ali tinha algo de especial.
Um dos monges teve a ideia de moer o grão torrado e fazer uma infusão com água, parecido com o que já se fazia com o chá. O resto é história.
Eles passaram a tomar a nova bebida para ajudá-los a ter energia para as longas horas que passavam meditando, muitas vezes à noite, e daí a fama da poção mágica se espalhou.
Apesar de essa história ser a mais difundida, há uma certa rivalidade entre Etiópia e Yemen sobre onde se originou o café. Mas sendo os dois países geograficamente tão próximos um do outro, podemos dizer que o consumo do café começou naquela região.
Até hoje o café etíope é considerado um dos melhores do mundo e mesmo se o Yemen não foi o primeiro a consumi-lo, foi lá que a cultura de tomar café começou, ainda que um pouco diferente de como a conhecemos hoje.
Na Etiópia, o café é tão enraizado na cultura, que lá costumam fazer a “cerimônia do café”. E para experimentá-la, fomos a um restaurante etíope aqui em Toronto:
Por ser um país muçulmano, o Yemen – assim como a maioria dos países da região – não consome álcool. Então imagina a descoberta de uma bebida que – sem bem não tem nenhuma propriedade inebriante – funciona como um estimulante? Virou a paixão nacional.
De lá para a Europa foi um pulo. No século XV, as cafeterias se espalharam por Constantinopla – atual Istambul – considerada a porta entre Oriente e Ocidente e berço das tendências da época.
O café começou a chegar a países da Europa Ocidental, mas a um custo ainda alto. O grão era trazido de viagens comerciais já torrados, já que os produtores não queriam que os europeus passassem a produzir o fruto tão lucrativo e, assim, deixar de comprar com eles.
Só que um holandês bem espertinho conseguiu furar o bloqueio. Em 1616, o comerciante Pieter van den Broecke escondeu umas mudinhas de café e levou para a Holanda. Lá ele começou a comercializa-las e fez bastante sucesso comercialmente.
O problema era que ele não conseguia produzir em larga escala para suprir a demanda crescente, até mesmo porque a Holanda não era uma área geográfica propícia para o cultivo do café.
Foi aí que os europeus começaram a expandir a produção para fora dos seus territórios.
As melhores áreas para cultivo de café estão na faixa entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio, então era pra lá que eles precisavam expandir a produção.
A Holanda então começou o cultivo no Suriname, sua colônia americana, e não demorou muito para outras potências européias fazerem o mesmo.
E foi assim que o café chegou a regiões que são tradicionais hoje como Colômbia e, claro, nosso Brasil.
Você inclusive deve se lembrar de ter estudado na escola o Ciclo do Café, entre os séculos XIX e XX, que elevou a importância do Brasil como exportador de café e ajudou no desenvolvimento interno do país.
A primeira muda chegou em 1727 ao Pará, mas foi no sudeste do Brasil que encontrou três características propícias para a produção em larga escala no país: solo fértil, clima favorável e – infelizmente – mão de obra escrava.
Impulsionada pelo consumo em alta da Europa, a cafeicultura teve seu boom no Brasil no século XIX. Baseada no sistema de plantations, ela trouxe desenvolvimento para o país, ou pelo menos para parte dele.
E se no Brasil a chegada da produção de café influenciou nossa história, o começo do consumo do café na Europa mudou o curso da Humanidade.
Vamos voltar um pouco no tempo aqui e imaginar a Europa antes do café.
Naquela época, as condições sanitárias na maioria dos países europeus não era das melhores. A situação era tão calamitosa que a bebida mais perigosa para se consumir – pasme – era a água.
Era tão inseguro beber um simples copo de água que as pessoas simplesmente deixaram de tomar água e a substituíram com outras bebidas: como vinho e cerveja por exemplo.
E faz sentido: o processo de fermentação da cerveja e do vinho tornavam essas bebidas muito mais seguras para o consumo.
O problema, claro, é que na época não existia cerveja ou vinho sem álcool (e pra falar a verdade, nem sei se alguém estava muito interessado nisso), então a população estava quase que o tempo todo embriagada.
Era como viver numa segunda-feira de carnaval eterna: todo mundo bêbado. E as consequências disso iam bem longe. Mais do que gerar situações desagradáveis – por exemplo, gente caindo de bêbada, desordem e tudo mais – o alto consumo de bebidas alcólicas deixava a população letárgica.
Ou seja, ninguém trabalhava direito. Aliás, nem estudava direito porque as crianças também consumiam cerveja.
A chegada do café mudou essa situação drasticamente. Agora as pessoas podiam consumir uma bebida segura, que não só não as embriagavam como também as deixavam mais alertas e com mais energia.
Até os horários começaram a mudar. Se antes as pessoas precisavam dormir mais para compensar a embriaguez, agora elas ficavam mais despertas, logo, podiam produzir mais.
E é nesse contexto que a Europa vive a Revolução industrial. Se a descoberta da energia a vapor possibilitou a invenção de máquinas, a chegada do café deixou as pessoa preparadas para opera-las.
A cultura do café então insaturada na Europa, mudou os hábitos da sociedade e possibilitou avanços não só tecnológicos, como intelectuais também.
Agora as pessoas se reuniam em cafeterias para conversar e discutir ideias. Novas teorias, movimentos e até revoluções começaram com pessoas simplesmente trocando informações com clareza.
As cafeterias até ganharam um apelido carinhoso de Penny University (a tradução livre seria algo como Universidade do Centavo) porque ao custo de um centavo, as pessoas poderiam expandir seus conhecimentos simplesmente frequentando cafeterias e conhecendo outras pessoas.
Bom, o relacionamento que a humanidade desenvolveu com o café lembra muito ao nosso relacionamento pessoal com o café. Possivelmente você estranhou o sabor amargo na primeira vez que experimentou, mas depois não conseguiu mais viver sem.
As ondas do café
E então chegamos à Era Moderna do Café – por assim dizer – que pode ser dividida por ondas.
O número de ondas depende da fonte que se consulta ou com quem conversamos, mas há um consenso de pelo menos três. E é delas que vamos falar agora.
A Primeira Onda
A partir do final do século XIX e início do século XX, o mundo passa por profundas transformações: a industrialização se consolida, automóveis começam a ganhar as ruas, eletricidade nas casas de pessoas comuns… e também, claro, as guerras mundiais.
O café passa a se tornar presente nas casas de todas as faixas da sociedade, principalmente após a invenção do café solúvel.
Em 1901, o químico Satori Kato inventa o primeiro café solúvel da história, mas a bebia era horrível e ninguém gostou muito.
Só depois da primeira guerra, quando algumas empresas já conseguiam produzir uma versão mais tragável é que as pessoas passaram a consumi-lo. E detalhe: um dos maiores compradores de café solúvel era o Exército Norte-Americano, que o incluía no pacote de suprimentos dos soldados. Para você ter uma ideia de como a bebida era considera um item essencial.
Mas o café solúvel só ficou popular mesmo quando em 1938, quando o governo brasileiro procurou a Nestlé para ajudá-lo a escoar a produção de café do país, que estava encalhada. A empresa então desenvolveu o Nescafé que conquistou o gosto não só dos brasileiros como do mundo, sendo hoje a marca de café solúvel mais consumida.
Estima-se que cinco mil e quinhentas xícaras de Nescafé sejam consumidas a cada segundo no mundo.
Essa presença massiva do café nas vidas as pessoas é conhecida como a primeira onda moderna do café.
É uma época em que o café é um commodity presente em todos os supermercados, oferecido por diferentes marcas e consumido em grande quantidade.
Enfim, grande quantidade. Vale lembrar que esse consumo é marcado pela facilidade de acesso e também de uso, já que, com a invenção da cafeteira doméstica nos anos 1950, o café definitivamente ganha as casas das pessoas.
Segunda Onda
Então, nos anos 1980, surge uma nova onda de consumo do café, desta vez mais voltado para a experiência de tomar café do que a bebida em si.
Já está até imaginando quem ficou conhecido nessa época, né? Pois é, não dá para fazer um podcast sobre café sem contar essa história.
Em 1970, três amigos de faculdade queriam montar um negócio de venda de cafés. A ideia era oferecer um produto de alta qualidade para um público que estivesse interessado em pagar o preço por isso.
Os amigos contaram com a mentoria de Alfred Peet, que havia fundado a Peet’s Coffee há alguns anos, e foi pioneiro em oferecer café premium nos Estados Unidos.
Então em 1971, eles abrem o primeiro Starbucks no mercado de Pike Place, em Seattle. Nos próximos 10 anos, seriam mais 5 lojas, todas elas ainda na mesma cidade.
Tudo mudou mesmo quando em 1982, Howard Schultz é contratado para ser diretor de Marketing e Vendas. Depois de uma viagem à Itália, ele volta com uma idea que mudaria não só a história da empresa, como influenciaria a cultura do café como a conhecemos.
Por que não, além de vender o café, servir o café? Pois é, até então as pessoas passavam no Starbucks, compravam o café e iam pra casa. A nova ideia era vender mais que a bebida, vender também a experiência de tomar café.
Foi assim que em 1983 nasceu o primeiro latte do Starbucks. O primeiro filho de uma família que só cresceu desde então.
Apenas quatro anos depois, Schultz compra o Starbucks por 3.8 milhões de dólares e começa sua expansão nos Estados Unidos e mais tarde, no mundo.
Hoje, o Starbucks tem cerca de 30 mil lojas e é avaliado em 80 bilhões de dólares.
Suas operações no Brasil ainda estão concentradas em grandes centros, mas em outros mercados ele é praticamente sinônimo de café para viagem. Estima-se que, de cada 3 cafés vendidos nos Estados Unidos, 2 são do Starbucks.
O Starbucks é parte importantíssima da evolução do consumo de café na nossa sociedade, mas obviamente não seria a última parada.
Eu já contei que a primeira onda ela pode ser caracterizada pelo baixo preço e grande quantidade, a segunda é uma mudança dessa perspectiva para a experiência… e finalmente, a terceira onda é sobre o café em si.
A Terceira Onda
O Starbucks e demais redes que vieram depois dele conseguiram transformar o ato de tomar café em uma experiência. Tanto que o café mesmo acabou ficando em segundo plano.
Coincidindo com o aumento de conscientização ecológica, econômica e social, o que vemos, a partir dos anos 2000, é o surgimento de um novo movimento relacionado ao café, conhecido como terceira onda.
É quando vemos o surgimento de pequenas cafeterias fazendo frente às grandes redes, em busca de café de qualidade e preocupadas com responsabilidade social.
Se bem o Starbucks popularizou – pelo menos nas Américas – a palavra barista, é na terceira onda que eles ganham lugar de destaque. Não basta mais filtrar um café de manhã e vender durante todo o dia aos seus clientes, é preciso oferecer um café preparado na hora com grãos de qualidade e por um profissional qualificado.
Não se entra mais numa cafeteria e se pede um café preto grande – ou melhor venti. Você escolhe entre o arábica colombiano fair trade ou o robusta indonésio torra escura.
À primeira vista pode até parecer um comportamento esnobe – ok, talvez seja em alguns casos – mas fato é que nunca se preocupou tanto com a qualidade do café que consumimos e, melhor que isso, com a origem desse café e dos trabalhadores da cadeia produtiva. E isso é muito positivo.
Para entender o por quê de se valorizar tanto os nomes de origem e de tipo de grão, e por quê isso é bom, é preciso entender o que aconteceu na indústria da cafeicultura no século XX. Sendo o café colombiano o melhor exemplo pra isso.
No início do século XX tanto a produção como o consumo do café tiveram um boom. E a Colômbia soube aproveitar bem esse momento, sendo o segundo maior produtor do mundo (e sim, o Brasil era o primeiro, ainda é).
Nessa época sua produção estava baseada na estrutura de plantations, ou seja, grandes propriedades com uma única cultura, o que funcionou bem até a crise de 1929 assolar o mundo.
O consumo de café caiu drasticamente e, claro, os países produtores sofreram com isso. Foi então que o governo colombiano resolveu agir, comprando essas grandes propriedades, dividindo-as em pequenos lotes e revendendo a pequenos produtores.
Esses produtores passaram não só a cultivar café, como outros produtos, o que não só salvou a industria cafeteria da Colômbia, como permitiu que esta passasse das mãos de grandes latifundiários para famílias, uma configuração que permanece até hoje.
Mas o auge mesmo veio quando em 1962, quando 70 países assinaram um acordo de preço mínimo de exportação do café, garantindo uma boa margem de lucro para os produtores.
Os anos1970 foram os anos dourados para a Colômbia, quando o país ganhou reconhecimento como melhor produtor de café do mundo. Aliás, o grão trouxe mais que isso, possibilitou um boom de desenvolvimento econômico no país.
Só que nos anos 1980, esse acordo é desfeito e países da Ásia começam a oferecer café a preços muito mais baratos, o que faz o preço do café cair no mundo todo.
Desde então, produtores pequenos não só da Colômbia, como de outros países (incluindo o Brasil) enfrentam desafios para produzir um grão de qualidade, mas ao mesmo tempo se manter financeiramente sustentável.
É aí que as cafeterias especializadas da terceira onda se encaixam. São elas que começam a valorizar a origem do café e assim trazer a discussão do preço justo do café para os consumidores.
Para alguns, a contagem das ondas do café para aqui. Mas já se fala em uma quarta onda e até numa quinta onda. Então, obvio que eu tinha que descobrir do que se tratava!
Pós-terceira Onda (ou o Império contra-ataca)
Com o interesse crescente das pessoas por café de qualidade e com responsabilidade social, as cafeterias especializadas se multiplicaram.
E claro, sempre que uma indústria é chacoalhada, os players tradicionais contra-atacam.
É disso que, basicamente, se trata o pós-terceira onda – ou talvez até uma quarta onda – do café: um movimento das grandes redes em direção ao que as pequenas cafeterias oferecem.
Para entender mais sobre isso, eu decidi fazer uma visita a um Starbucks Reserve, uma loja – digamos – premium do Starbucks.
O Starbucks abriu seus locais Reserve em cinco países: Estados Unidos, China, Japão, Itália e Canadá; com o intuito de ganhar de volta consumidores que migraram para as cafeterias especializadas.
Nessas lojas, ele oferece uma experiência mais personalizada, com grãos de café de alta qualidade, referência de origem e processos diferenciados.
Um desses processos é o clover, que experimentei no Starbucks Reserve de Toronto.
Trata-se uma máquina – que eu chamaria quase de engenhoca – em que o café é filtrado de uma forma bem inusitada.
Bom, o café era premium e é claro que ver o barista passando o café de uma forma tão diferente faz a experiência ser especial. Mas e o local em si, trazia um ar de cafeteria especializada.
A resposta simples e clara é não.
Para começar, confesso que fiquei um pouco decepcionada com a aparência do local que eu fui. Pesquisando antes de ir tinha encontrado vídeos e fotos de outros Starbucks Reserve pelo mundo e pareciam lindos. Então, talvez eu tenha ido com as expectativas muito altas…
Ao entrar, já percebi que não era tão intimista como as cafeterias de bairro costumam ser, era bem amplo com uma decoração industrial escura.
Até aí tudo bem, porque sei que não era bem o tamanho pequeno a prioridade do Starbucks e sim a experiência que se tem nesses ambientes. E vamos combinar que algo assim feito por uma rede como o Starbucks chama muito a atenção, logo atrai muito mais gente que uma cafeteria local. Eles precisam mesmo de um espaço grande para atender confortavelmente a todos.
E falando em conforto… humm… não sei. Apesar de ter cadeiras e mesas para sentar-se, faltou aquele ambiente convidativo que encontramos em cafés menores.
Quando entramos, encontramos uma fila tradicional do Starbucks, cercada por merchandise e grãos de café à venda. A diferença para os demais Starbucks era de que alguns produtos eram exclusivos.
No final desse corredor de mostruários encontramos um quadro negro enorme que lista todos as bebidas disponíveis. Lá no final constavam os dois grãos oferecidos no dia para o método clover, um deles inclusive brasileiro.
Fizemos o pedido no balcão, como em qualquer Starbucks, mas preciso dizer que a experiência não foi boa. Como o local era grande e – talvez por ser sábado – estava cheio, a comunicação como barista foi bem complicada.
Pedi o café brasileiro, mas ele me informou que não tinha os do quadro e que naquele dia estavam servindo outros cafés, designados por números. Ou seja, em vez de nome e origem, eu teria que escolher pelo número. Sim, igual àquele Fast Food…
Perguntei a diferença entre eles, porque nem isso tinha me explicado. Era quase um jogo de azar: escolha o número e torça para gostar.
Ele me explicou que um tinha a torra mais escura que o outro. Para simplificar meu processo de decisão pedi um de cada logo.
No geral, posso dizer que minha primeira e única experiência no Starbucks Reserve não foi tão boa como costumo ter quando vou a cafeterias especializadas.
Talvez seja como a nossa experiência com café: não gostamos na primeira vez, mas depois nos apaixonamos… quem sabe na próxima, né?
Mas vale lembrar que essa foi a minha experiência em um Reserve entre outros, eu não quero, de maneira nenhuma – lhe dizer que não vale a pena visita-los.
Se um dia você tiver a oportunidade de ir a um deles, vá e tenha você mesmo essa experiência. Eu não gostaria de pensar que privei alguém de algo pelo qual talvez se apaixonaria só porque eu tive uma má experiência.
Aliás, se você já foi a um, eu quero saber como foi, me conta lá no Twitter, eu sou a @jornalistalu e sou muito curiosa para essas coisas.
Cafeína: vilã ou heroína?
Quando falamos em café, há um outro nome que precisa ser mencionado. Não, não estamos falando mais do Starbucks.
Estou falando da cafeína, a substância psicoativa mais consumida do mundo. Cerca de 90% das pessoas consomem cafeína todos os dias. Esse consumo pode ser originário do café, é claro, e também de chás e de outras bebidas e alimentos, como o chocolate por exemplo.
É interessante como uma substância tão presente nas nossas vidas ainda esteja cercada de mitos e dúvidas. A cafeína realmente nos estimula? Pode viciar? A gente pode morrer se consumir muito?
Bom, para responder a algumas dessa perguntas, precisamos entender como a cafeína se relaciona com o nosso organismo, ou mais especificamente, como ela se relaciona com a adenosina, já ouviu falar dela?
A adenosina é uma substância produzida pelo nosso organismo que tem a função de nos preparar para descansar.
Funciona assim: você deve ter estudado na escola que os nossos neurônios são transmissores de informação do cérebro.
Bom, os neurônios transmitem informação ao se conectarem entre si.
Depois que estamos há algum tempo ativos e precisamos descansar, nosso organismo libera adenosina, uma substância que se encaixa nos transmissores dos neurônios, impedindo a conexão entre eles.
Quando isso acontece, há um bloqueio na transmissão de informações e nossa capacidade de raciocínio diminuiu, nos sentimos cansados, até que precisamos dormir.
Já a cafeína, ela é a substância antagonista da adenosina. Ou seja, por te uma estrutura molecular semelhante à da adenosina, quando a cafeína entra no nosso organismo ela se encaixa nos transmissores do neurônio, impedindo a adenosina de fazer o seu trabalho.
O resultado é que nosso organismo não recebe a informação de que precisa descansar, ou seja, não nos sentimos cansados.
Por tanto, a cafeína não nos dá energia ou ajuda o organismo a produzir energia de alguma maneira. Ela simplesmente nos impede de saber que estamos cansados. Só isso.
E isso é bom ou ruim? Aí depende.
Se a cafeína lhe impede de sentir sono ou lhe ajuda na concentração, ela pode ser uma excelente aliada em tarefas complexas, em que você precisa de total atenção.
Aliás, já vimos neste episódio que a cafeína trouxe benefícios para o desenvolvimento da Humanidade.
Mas tudo tem seu preço. Se você ignora o cansaço, não significa que ele vai embora. Então quando o efeito da cafeína passa pode ser que você se sinta ainda mais cansado.
Sem falar na tolerância à cafeína que nosso organismo vai construindo com o tempo.
A partir do momento em que a adenosina não consegue cumprir o seu papel, nosso organismo a vai librando mais e mais, logo, a competição com a cafeína fica mais acirrada. Se as moléculas de adenosina estão em maior número, há mais chances de se encaixarem nos transmissores dos neurônios.
Logo, para conseguir bloqueá-las, precisamos de mais cafeína. E quanto mais cafeína, mais nosso organismo libera adenosina… e assim a tolerância vai aumentando.
É por isso que algumas pessoa precisam de mais xícaras de café para sentir os seus efeitos que outras. Claro que há outros fatores envolvidos, como idade, genética, composição física, etc. Mas a tolerância construída é um dos principais.
E há algum limite de cafeína que podemos tomar? Bom, limite há, mas pode ficar tranquilo que para um adulto sofrer – digamos – uma overdose de cafeína, ele precisa consumir muito da substância. Em torno de 1 colher de sopa, que parece pouco, mais é o equivalente a 70 xícaras de café.
Mas se bem é praticamente impossível de tomarmos essa quantidade absurda de café em um dia, não significa que tomar grande quantidade – ainda que menor – constantemente não seja prejudicial.
O recomendável é que um adulto tome, no máximo, quatro xícaras por dia.
E afinal: o café é amigo ou inimigo? Depende. E depende de vários fatores.
Há uma infinidade de estudos que ligam o consumo de café a benefícios de saúde, assim como há também que o ligam a consequências negativas. E pouquíssimos deles são conclusivos, ainda precisamos estudar muito os efeitos do cafeína no organismo a longo prazo para ter certeza.
A melhor forma de tomar uma decisão pessoal é analisar a sua relação com o café. Começar a prestar a atenção em como se sente depois de uma xícara, duas… talvez até mesmo anotar para poder identificar padrões com o tempo.
Algumas pessoas irão perceber mais benefícios que malefícios, outras notaram alguns efeitos indesejados. Então em vez de buscar uma resposta universal, o melhor é que cada um tome sua decisão baseado em suas experiências.
E caso a pessoa percebe efeitos negativos, ela consegue simplesmente parar de consumir café? A cafeína é uma substância que causa dependência? Hum, outra resposta complicada e irá depender do entendimento de cada um sobre o que é dependência.
Se uma pessoa não consegue executar suas tarefas do dia a dia sem tomar uma xícara de café antes, podemos sim considerar que há uma dependência.
Por outro lado, a dependência química à substância não está comprovada. De fato, o processo de desintoxicação de café é muito diferente do padrão de vício em outras substâncias.
Apesar de o indivíduo sentir muita necessidade de consumir o café em abstinência, ele não sofrerá efeitos severos como em outros casos. Sem falar que é possível diminuir o consumo de café gradativamente ou até mesmo passar a regular a quantidade, algo impossível com outras substâncias.
Se você decidir hoje tomar menos café ou simplesmente não consumi-lo mais, se sentirá mais cansado e disperso nos primeiros dias porque seu organismo irá liberar uma grande quantidade de adenosina à espera das altas doses diárias de cafeína. Mas com o tempo isso também será regularizado.
Mas nem todo café é igual…
Tipos de café
Se você tem uma idade próxima à minha, você provavelmente cresceu ouvindo a palavra café sozinha, sem nada acompanhando. Para mim café sempre foi café.
Mas se tem algo que a terceira onda conseguiu foi nos ensinar mais nomes para o café. Você pelo menos ouviu alguma vez a palavra arábica, mesmo que não saiba exatamente o que é.
Acontece que o café é uma fruta – sim uma fruta – mas assim como a banana – que, óbvio, também é uma fruta – o café é dividido em variedades, que vão definir características que nos agradarão ou não na hora de consumir nossa simples – ou não tão simples assim – xícara de café.
Eu já mencionei o café arábica e talvez seja uma boa começar por ele, afinal representa 60% da produção mundial. A grosso modo podemos dizer que o arábica é o filé mignon das variedades de café. Mas apenas a grosso modo porque, como vou explicar a você, assim como há carnes mais apropriadas para certas receitas, há variedades de café que se encaixam melhor no seu propósito, sem necessariamente ser um tipo bom ou ruim.
Bom, o café arábica é o queridinho. Quando você vai ao Starbucks ou a uma cafeteria especializada é o que, provavelmente, irão lhe servir. Considerado o de melhor qualidade, tem um sabor menos amargo e agrada a mais pessoas.
Mas o arábica tem um inconveniente: ele só cresce no alto de montanhas e, por isso e outros motivos, tem um preço mais elevado.
É por isso que há uma outra variedade que também é muito consumida: o Robusta, conhecido por ter pés mais resilientes, que crescem em áreas mais baixas. Por ser mais barato, é normalmente o café utilizado na produção de café instantâneo e de marcas mais populares.
E aqui há uma outra diferença crucial: além de ser mais amargo, o robusta tem quase o dobro de cafeína que o arábica.
Óbvio que sua pode ser uma vantagem se o que se está procurando é uma dose forte de cafeína, mas vale lembrar aquilo que aprendemos sobre os efeitos a longo prazo: quanto mais cafeína você consome no dia a dia, mais seu organismo vai se acostumando e precisando de mais para sentir os efeitos. Logo, se você consome café robusta constantemente, provavelmente está construindo uma tolerância muito mais forte à cafeína.
E se você acha que o café pode estar prejudicando seu sono ou o está deixando irritado, dê uma pesquisada no rótulo do pó ou do grão que você costuma consumir. Pode ser uma simples troca para um arábica lhe ajude a resolver seu problema.